A ética de si no dia a dia

Referenciais para avaliar a própria ética.

Neste podcast eu gostaria de conversar um pouquinho com vocês sobre o movimento pela ética no país. A gente está no terceiro estágio da evolução desse movimento e estamos centrando tudo sobre a ética dentro de cada pessoa em vez de a gente falar sobre os outros, apontar dedos etc. Nós estamos entrando na Ética de Si como passo inicial. O que torna o movimento bastante simples, porque a ideia é que as pessoas reflitam no dia-a-dia se o que estão fazendo agora, se as decisões que tomam estão compatíveis com essa ideia de bem comum. Isso que eu estou  fazendo agora, esta decisão que eu estou tomando agora, essa decisão é exclusivamente para me favorecer de um jeito egoístico ou eu posso tomar esta decisão sempre pensando no bem comum? E a gente está obviamente trabalhando aquela definição de ética como sendo a escolha pelo bem comum, que é o oposto de egoísmo. Então, se a gente refletir sobre isso, a ideia é que a gente consiga cada vez mais ser guiado pelo bem comum nas decisões que tomamos no dia a dia nas áreas pessoal e profissional.

Então, nesse podcast,  eu estou querendo ir um pouco além, conversar com vocês um pouco sobre o passo seguinte porque, num certo sentido, nós estamos dizendo: sim, eu posso ser guiado por essa questão do egoísmo. Não-egoísmo é a busca do bem comum, mas existem fatores que nos levam a outro caminho, podem levar o ser humano a outro caminho que, na verdade, polui o processo de busca do bem comum. E aí a gente começa a pensar bem seriamente. Quais são as justificativas que as pessoas usam, consciente ou inconscientemente, para fazer coisas que não são éticas? Começamos a brincar com essa ideia e o primeiro exemplo que veio foi bom, está bom, se o Robin Hood estivesse pensando sobre o Movimento e pensando sobre o que de fato é a fábula de “você rouba dos ricos e distribui para os pobres”. Isso significa que ele está indo na direção do bem comum? Mas isso que ele está fazendo é ético? A justificativa é essa para esse raciocínio Robin Hood. Ele rouba dos ricos e dá para os pobres e, portanto, isso legitima o que ele faz no dia a dia. Estamos querendo ir nesses detalhes.

E aí aparecem coisas bem interessante, até divertidas, embora seja um assunto sério. Por exemplo, o ditado popular que está no inconsciente de muitas pessoas é essa ideia de que “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”. Outra é essa ideia de que “rouba mas faz”. Ou essa outra que “os fins justificam os meios”. O fim é nobre, portanto eu posso fazer uma série de coisas não éticas no caminho para chegar ao objetivo.

Então essas são justificativas que estão presentes nesse negócio: “se for um pouquinho não tem problema” que o pessoal vive citando, esse negócio de parar em fila dupla “mas são uns minutinhos”. Sim, mas essas pequenas justificativas se ampliam de tal jeito em certas circunstâncias que também justificam “só um pouquinho não vai fazer mal a ninguém, nem vão notar”. Tem que colocar e assim por diante. Então, nós estamos coletando frases com esses pensamentos, essas racionalizações nas turmas que a gente encontra nos nossos programas e tudo mais. E está vindo um conjunto muito interessante de justificativas que as pessoas usam no dia-a-dia. Nós vamos, no próximo webinar, trazer a vocês essas justificativas. E quem sabe muitos de vocês que estão ouvindo este podcast queiram também colaborar trazendo para o Movimento essas justificativas. O objetivos é pegar cada uma dessas justificativas e trabalhar explicitamente para mostrar em que sentido elas estão tortas e como elas podem fazer a gente corromper nossos  próprios valores. E, na medida que nossos valores sejam corrompidos, isso abre uma porta, uma porteira imensa para outros atos não éticos em que possamos estar envolvidos nessas situações do dia a dia.

Então, o espírito deste Movimento, que eu convido vocês todos a participarem, é a gestão de si, que é algo fácil, num certo sentido muito simples. É trazer toda a reflexão da ética para si e a questão básica é obviamente assim: Eu sou ético o suficiente? Eu sou um exemplo de ética em todas as dimensões das área pessoal e profissional? É nesse sentido que esse exame de consciência pode trazer subsídios bastante interessantes que vão levar todos nós a uma evolução contínua no dia a dia.  E aí nós acreditamos no Movimento que faz com que a prática do dia a dia seja a maior mestra na nossa evolução na dimensão ética. E, por outro lado, é a pergunta que fica também depois dessas reflexões. E também ao ler o que está lá no no Movimento e se essa reflexão para dentro é o que vai nos fazer evoluir como seres humanos. E não estamos falando só em evoluir na dimensão ética, mas estamos falando da nossa evolução como seres humanos para a vida inteira.

É aí que, na verdade, também o Movimento Ética de Si trabalha a questão da consciência. Primeiro dentro de uma abordagem de a gente conseguir ter consciência da vida no sentido mais amplo. É essa consciência que nos faz, por exemplo, imaginar e até questionar o que é na verdade o bem comum. É nesse sentido que o Movimento traz o referencial da Carta da Terra ou talvez os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU como sendo alguns referenciais que podem nos ajudar a ampliar a nossa visão de bem comum. A gente costuma dizer que quando pensamos em ética como a escolha pelo bem comum,  pensamos no que é bem comum para mim. E já na primeira conversa com um colega, um amigo do lado, a gente vai descobrir que o conceito de bem comum desse nosso amigo é diferente do nosso e assim por diante. E aí também essa reflexão nos leva à ideia de que bem comum só pode ser definido se a gente conversar com todos os povos da Terra. É nesse contexto que a gente mostra que essa pesquisa já aconteceu quando da construção da Carta da Terra. É por isso que o texto Carta da Terra é hoje o melhor referencial para as escolhas estratégicas. Então, vale a pena entrar fundo e refletir sobre esse documento que é um documento histórico tanto quanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos.  Essa declaração tem décadas, é muito mais antiga que a Carta da Terra. A Carta da Terra saiu no ano 2000, não completou 20 anos ainda, mas já é um documento histórico. A gente olha e isso pode nos levar a interpretações mais sutis do mundo de hoje em 2018. Quase 20 anos depois, há questões que não estavam previstas na época em que a Carta foi concluída? Certamente sim, mas o espírito da coisa está lá e é nesse sentido que os documentos nobres, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, por exemplo, nos ajudam a reinterpretar ou interpretar os desafios de hoje à luz dos valores que foram amarrados ou integrados, costurados no documento original lá atrás. Então, é fundamental que a gente olhe e também consiga a trazer vida ao próprio documento Carta da Terra no refinamento do conceito de bem comum.

Então, eu deixaria aqui um convite para todos vocês entrarem no texto Carta da Terra e ter um conhecimento um pouco mais profundo dos objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. E, de posse disso, refletir em grupo, com seus amigos e colegas, sobre o conceito de bem comum e como expandí-lo. Eu poderia até neste momento dizer que quando a gente olha a Carta da Terra vemos que são quatro dimensões em que nós temos que prestar atenção. O primeiro é o respeito a todas as formas de vida no planeta e não só a vida humana. Na medida em que a gente tem esse respeito por todas as formas de vida no planeta, isso leva naturalmente à integridade ecológica. Mas também o respeito a todas as formas de vida me leva naturalmente à justiça social e econômica. E também o respeito a todas as formas de vida me leva naturalmente a uma cultura de paz, não violência e democracia. Todas essas quatro dimensões estão interligadas. Então, é por isso que a gente diz que se não há  justiça social e econômica, isso leva naturalmente à violência e à violação da cultura da paz. Tudo isso está ligado. Mas no centro de tudo há esse respeito a todas as formas de vida no planeta. E só com esse parâmetro, esse referencial, a gente talvez consiga rapidamente visualizar o conceito de bem comum que pode ser o nosso grande guia para as nossas decisões no dia a dia que sejam absolutamente éticas e estejam construindo esse bem comum a partir das nossas próprias ações.

O convite que fica é para vocês tomarem contato com o Movimento Ética de Si e, a partir desse contato, expandirem os referenciais que vão poder nos guiar a todos na direção de uma cultura mais ética. A prioridade maior que temos é o resgate dos valores e da ética no país todo. No próximo podcast posso falar um pouco sobre porque o resgate de valores e da ética é algo prioritário hoje no país. Até lá.

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