Caminhos para a evolução da sociedade a partir da ética de si

Para sair do egoísmo individual e coletivo e evoluir para uma sociedade mais harmoniosa, é preciso começar a transformar o modo de ver os fenômenos sociais. Inclusive a origem da violência.

Se a gente olha um pouco a escala, nós sempre falamos assim: o egoísmo, o individualismo. A pessoa pode até deixar de lado a própria família – tem que ser egoísmo extremo. É aí que a curva começa a crescer. Aí ele se preocupa com a família, é claro. Daqui a pouco nós temos um egoísmo coletivo centrado na família. Mais ou menos assim: A minha família é o que importa o resto que se dane. Eu posso estar numa comunidade e dizer: Minha comunidade que interessa o resto que se dane. Eu posso falar do país e dizer: Meu país e que importa o resto que se dane. E assim por diante. Egoísmo coletivo.

Mas eu queria pegar um pouco essas pessoas que estão nesse estado de egoísmo, seja individual ou coletivo, que se tornam barreiras para o diálogo mais amplo que precisamos numa democracia. E isso é parte da realidade de muitos países. Então, se a gente olha por aí, a pergunta que fica para nós é como é que a gente supera democraticamente essas pessoas que, por estarem no extremo do egoísmo, se tornam barreiras para a tangibilização do próprio conceito de democracia e a busca do bem comum. É claro que existe uma escala de como é que se lida com as barreiras. E a gente vê de tudo. A gente vê que parece que tem gente que já está totalmente descrente de que é possível superar esse tipo de irregularidade. A gente vê pessoas que se prendem a um egoísmo extremo e não conseguem ir além disso.

Essa é uma grande barreira. E aí tem um extremo até mais extremado de lutar com as mesmas armas, num certo sentido. E quando a gente fala de armas, é a própria violência que se instala. Porque o egoísta extremo pode ficar violento na defesa de seus próprios interesses E aí é claro que existe sempre esse outro lado da força, que também quer, de forma violenta, lidar com essa violência que vem do egoísta.Não é por aí, porque o caminho é o da democracia.  Ela primeiro tem que honrar essas diferenças. Honrar que uma boa parte uma parte do país vai estar presa a esse tipo de coisa e colocar isso como um desafio, uma equação impossível de como é que eu trago essas pessoas para esse nível de consciência em que a pessoa precisa saber que tem um papel importante para a realização do bem comum. Aí que é nesse outro extremo que podemos ter essa inclusão total, essa atitude de incluir também essas pessoas que são barreiras de forma ética, respeitando e até imaginando que essas pessoas ainda estão num outro  estágio de evolução e é por isso que agem dessa forma.

É nesse sentido que se nós todos estivermos construtivamente empenhados em trazer para o diálogo mais profundo todas essas pessoas que hoje são barreiras, um dia a gente chega lá. Esse tal de um dia é que é o “x”, porque tem pessoas que estão dizendo não podemos perder gerações tentando fazer isso. Mas eu acho que é muito mais questão de estratégia, desenvolvimento, gestão de mudança, gestão de conflitos, de uma série de competências que nós todos precisamos ter como cidadão para ter uma postura construtiva, inclusiva, na sociedade. Inclusiva no sentido de não deixar ninguém de fora.Por isso que eu digo que às vezes o desafio é trazer o criminoso para o caminho do bem. E muita gente mais uma vez vai dizer: impossível. E tem gente que está querendo que a pessoa fique na cadeia o tempo todo. Mas a gente pensa na natureza humana Todos nós erramos. Agora, na medida que isso seja algo que a gente registre em cada um de nós, nós precisamos, como sociedade, resgatar aquelas pessoas que estão nesse extremo. Elas não estão lá por acaso e talvez a própria sociedade seja responsável por essas pessoas estarem nesse extremo. Aí, se a gente olha uma criança pequenininha, a gente vê a pureza dessa criança. A gente imagina que nessa pureza a criança precisa ser protegida, precisa ser educada para que a sua evolução esteja na direção certa. Agora, se há inclusive crianças sem pais, sem pai nem mãe, e que estão aí literalmente abandonadas, essas crianças estão absolutamente desprotegidas e podem se desviar em sua evolução e irem para o extremo do egoísmo e eventualmente até o extremo do crime.  Quem é responsável por isso? Nós somos, a sociedade é responsável por isso. E nesse sentido é que somos movidos pela compaixão, movidos por valores nobres. Nós temos que sempre estar atentos ao resgate dessas pessoas que se desviaram por uma série de razões. É um trabalho que parece que nós vamos ter que também colocar como uma grande prioridade num país onde a violência está aí.

Talvez a violência nesse país seja o grande empecilho em relação à própria economia. Nós temos trabalhado muito ultimamente sobre papel do turismo no Brasil. Nós temos um país vocacionado para isso. Se a gente começa a sofisticar mais ainda a questão do turismo, trazendo turismo de várias naturezas, inclusive de conhecimento, de consciência, de resgate da relação mais afetiva entre as pessoas, colocamos esses objetivos no próprio turismo que podemos promover. Além de falar dos ativos ecológicos que nós temos, das belezas naturais e tudo mais,nós precisamos trabalhar essa questão da violência. Porque pode ser um grande obstáculo para os turistas virem ao Brasil. É uma questão estratégica também. Por outro lado, é uma medida que nós, líderes, se nós estivermos participando mais ativamente dos destinos do país, nós temos que colocar na mesa e conversamos muito seriamente. Nesse sentido, nós vamos ter sim que resgatar essas pessoas que estão desse lado da violência, promovendo essa violência que é extremamente negativa para o país.

Existem essas pessoas que estão no extremo do egoísmo. De egoísmo inclusive que é o crime. E nós podemos fazer algo a respeito, temos que ser construtivos nesse processo E aí de repente pelo diálogo, pela intensidade do diálogo, pelos nossos exemplos, pelos nossos valores, pela nossa compaixão, podemos começar a trazer essas pessoas para o caminho que leva ao bem comum. Então, mais do que simplesmente entrar em choque com esse individualismo excessivo, nós temos que pensar em como é que nós estrategicamente trazemos todas essas pessoas para o outro caminho. É um esforço muito grande, mas nós não podemos esquecer que todas essas pessoas são humanas. A humanidade e a consciência humana estão presentes em cada uma dessas pessoas. Por isso eu tenho dado exemplos assim. Uma vez eu vi um traficante sendo entrevistado. Quando o repórter perguntou para o traficante se os filhos dele sabiam o que ele fazia, ele foi muito forte em reagir e dizer que ele não queria que seus filhos entrassem no crime. Por essa preocupação de não querer que seus filhos entrassem no crime a gente vê que tem uma luz de consciência dentro dessa pessoa e é por aí que nós temos condições de trazer essas pessoas para o lado do bem comum. E nesse processo nós podemos aprender muito. Nós todos que nós consideramos pessoas do bem vamos evoluir muito em nossos próprios valores se nos esforçarmos para trazer essas pessoas para o caminho do bem comum. É  um jeito de olhar que pode fazer enorme diferença. Posso olhar as barreiras sempre por um lado construtivo, positivo, e é isso que vai fazer com que nós consigamos efetivamente resolver essas grandes questões que nós temos no país. Inclusive a questão do resgate de valores e da ética no país.

Então, neste podcast nós estamos trazendo essa outra perspectiva de como é que a gente lida com as barreiras. Tem gente que já desistiu há muito tempo de trazer essas pessoas para dentro. Então nós temos que nos preocupar em trazer para dentro desde a infância no sentido de porque depois parece que fica mais difícil. Fica mais difícil, mas não impossível. Esse esforço de lidar com as barreiras de forma construtiva é o tema deste podcast.

Mais uma vez eu gostaria de incentivar todos vocês a abrirem esse diálogo ao seu entorno. Tenho certeza de que haverá pessoas que vão achar isso impossível. Algumas pessoas vão achar isso absurdo, longe da realidade Mas vamos considerar essa reação como algo normal e vamos conversar mais amplamente. E até especificamente, quando todos nós conhecemos pessoas ao nosso redor que se desviaram e a ideia é de como a gente pode ajudar essas pessoas a virem para o outro caminho. Então, eu gostaria muito de incentivar a vocês todos nesse podcast a pensarem sobre isso. E mergulharem para dentro de si também sobre quais são as suas premissas, quais são as suas verdades, suas crenças sobre esse tipo de coisa de resgatar os que são hoje barreiras à evolução da própria sociedade. Boas reflexões a todos vocês.

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