Como é que a gente consegue colocar pessoas competentes em todos os postos de liderança no país? Essa imagem que não é fácil a gente ter e nem sempre a gente conversa sobre isso. O país só andará no ritmo e com resultados que a gente gostaria de ter quando, na verdade, todos os postos de liderança na área pública e privada, estiverem sendo ocupados por pessoas competentes.
Vamos imaginar que nós estamos num processo de seleção, aí a gente teria que conversar: “Qual é o perfil desses líderes que nós precisamos nesse país?”. Rapidamente a gente vai começar a falar sobre a competência disso e daquilo, a capacidade disso e daquilo, os cursos que a pessoa fez, os conhecimentos que tem. Tudo isso vai entrar nesse tal do perfil que é o “feijãozão com arroz” que se usa em todo lugar.
Então quando a gente fala de perfil desses líderes-chave para o país e pelo lado da consciência, nós vamos ter que falar de outras coisas. Não é a capacidade que a pessoa tem. É como ela usa suas competências em momentos críticos de tomada de decisões importantíssimas para sua área ou outra área da instituição em que ela está. Mas, parece que precisa de algo além das competências, para que a pessoa decida com muita propriedade, com muita sabedoria, de tal forma que, o melhor aconteça para sociedade como um todo.
Então quando a gente começa a falar de perfil e sai do “tradicionalzão” e começa a falar de consciência, me faz lembrar de uma conversa que tive com Peter Drucker. É ai que a gente vê que tem algo que transcende a formação da pessoa: o que que ela estudou, onde ela estudou, que nível de capacidade ela tem, suas habilidades, etc., etc., etc. É uma coisa que é quase indefinível, mas que há algo de valor. A gente fica imaginando como é que se desenvolvem essas coisas sutis que definem a sabedoria das pessoas.
Uma das coisas que o Peter Drucker me disse nessas conversas informais é de que quando ele está ajudando a selecionar um CEO, ele fazia longas entrevistas, até para as pessoas se manifestarem em várias dimensões e, obviamente, parece que o intuitivo dele estava ligado o tempo todo. Não é só o lógico-racional em processar os dados. Aliás, que com o computador faria talvez melhor que nós. Mas após um olhar mais atento para pessoa e depois de conversar duas horas e ter tido algumas impressões da pessoa, a pergunta-chave ele disse que fazia a si mesmo no final da suas conversas e de sua avaliação era: “Se ele gostaria de ter seu filho trabalhando para essa pessoa, e se alguma coisa dentro dele dissesse: NÃO consigo enxergar isso, não gostaria que meu filho trabalhasse para esse eventual CEO. Ele não aprovava.”
Então tem alguma coisa sutilíssima aqui que eu de novo associo a uma frase do Einstein que é famosa, embora não seja uma das mais conhecidas, que ele dizia que: “Nós estamos vivendo tempos em que a gente vê perfeição dos meios e confusão quanto aos fins.” Pessoas que sabem mexer com todos os meios, conhecimentos, tecnologias e tal, mas está faltando essa coisa sutil que o Drucker, por exemplo, tem. Que é sobre: “O quê que nós estamos buscando construir no mundo?”. A expressão “estado do mundo” é algo que, quando a gente começa a conversar sobre consciência, nós precisamos entrar muito fortemente, porque se a gente olha o estado do mundo isso é análise de quem? De alguém que estudou ciências políticas, de alguém que estudou economia, de alguém que estudou o quê especializadamente?
É muito mais do que um conhecimento isolado. É um conjunto imenso de áreas de conhecimento que nos faz olhar o mundo por uma perspectiva que não seja parcial, uma visão de mundo que abarque todas as sutilezas, inclusive o que as pessoas estão sentindo, não só líderes, mas especialmente a sociedade como um todo e a energia que acontece e que pode construir ou destruir. A energia humana que pode levar a guerras ou energia humana que pode, num grande mutirão construir, coisas extraordinárias, construir um mundo extraordinário.
Agora, mais uma vez, estamos selecionando líderes, e qual é o perfil que a gente está buscando? É o” tradicionalzão” ou é algo que contém essa coisa sutil sobre a qual a gente não conversa com grande frequência?