Para esse conceito de disturbar eu gostaria de associar à vida pessoal: Como seria para aquela pessoa que não está em seu melhor estado, que não se cuida, que não pensa no que está acontecendo e, de repente, tem um infarte e vai para o hospital? Essa é uma disturbação. É como se o universo estivesse trazendo esse elemento disturbador: a pessoa fica 10 dias no hospital e vai voltar reinventada. Eu brinco e digo que uma parte vai voltar diferente mas tem gente que nem tendo um infarto muda o seu jeito de viver o dia a dia. Mas, se a gente pensa antes de acontecer alguma coisa dessas – de eu me preocupar com certas coisas e fazer esse exercício de auto disturbação por exemplo e ouvir mais os sinais que estão vindo – se a gente estiver mais preparado para ouvir essas coisas, não chegamos a esta situação extrema.
Tudo isso faz parte desse processo e nós, líderes especialmente, temos que ser craques nisso. Inclusive a gente fala de disturbações que, você como líder gera, para evitar que a sua equipe ou a sua organização ou o seu setor se acomode. Então, continuamente devemos pensar em desafios que não deixem as pessoas entrarem em zonas de conforto. Nós temos trabalhado esta questão mas também temos trabalhado outra que é o próprio líder se auto disturbar. A pessoa pode estar em um fim de semana, lendo um livro quieta, andando ou fazendo jogging no parque e de repente, vem essa ideia de que ela própria está se acomodando. Acho que todos nós podemos estar num momento desses ou até encontrar-se em um momento desses no qual refletimos: “Estou me acomodando.” E aí fazemos alguma coisa a esse respeito. Não é só ficar achando isso e entrando em depressão.
A ideia é de que a pessoa se disturbe fazendo algo diferente para si mesmo: viajando, fazendo retiro, indo para um lugar totalmente inusitado, começar a se interessar por assuntos bem diferentes a partir de revistas, sites etc e também buscar ajuda. Pode até ser uma ajuda informal, conversar com pessoas que estão no maior pique e trocar ideias do que elas fazem para estarem o tempo todo motivadas e não acomodadas. É a própria pessoa que toma essa iniciativa. Nas organizações parece que nós vamos ter que fazer isso cada vez mais. Parece que isso é algo embutido no cargo dos líderes de hoje. É a capacidade, a criatividade de bolar disturbadores continuamente para fazer com que a organização não se acomode. Eu posso dar alguns exemplos de coisas que podemos fazer – algumas são muito simples. Por exemplo, bolar simuladores. Eu posso dizer: “Na quinta-feira da semana que vem eu vou querer que todos os colaboradores aqui pensem sobre a possibilidade de entrar um concorrente novo no mercado que pode fazer com que a nossa organização tenha que se reinventar. Pensem um pouco sobre isso. E aí vamos incentivar que na quinta-feira da semana que vem, a empresa inteira esteja conversando em pequenos grupos sobre essa simulação e o que gente teria que fazer caso isso venha acontecer.” E nessa ideia de imaginar desafios prováveis antecipando as coisas é um campo extraordinariamente interessante que estimula as pessoas a pensarem antecipadamente sobre as medidas tomadas caso essas situações acontecessem. Nessas simulações não há limites.
Eu posso até imaginar o que aconteceria se a organização falisse. De repente o presidente diz: : “Acabamos de falir.” Uma simulação. Como é que seria essa reestruturação se nós formos começar a nossa empresa do zero, como é que nós criaríamos essa empresa? São coisas que nós não fazemos normalmente mas é um disturbador. Isso faz as pessoas saírem do incremental, do normal, da atividade que tem da empresa que existe e tem que pensar diferente. Com uma cabeça de start up. E é impressionante o que esta simulação pode gerar. É o nosso jeito de olhar a própria organização. Hoje, essa capacidade de criar distúrbios, desafios que impeçam as organizações de se acomodarem é parte das competências naturais que todo líder deveria ter nesse século XXI em uma era em que tudo está mudando muito rapidamente e que exige mudanças contínuas, não só mudanças contínuas mas, reinvenções contínuas.