O propósito das organizações, das comunidades e das pessoas não pode ser dissociado da evolução da sociedade como um todo.
Neste podcast vamos refletir um pouco sobre o conceito de empresa cidadã. Ou comunidade cidadã. Ou grupo de pessoas que se consideram cidadãos envolvidos. Tem alguma coisa aqui que não aparece nos diálogos, não aparece na mídia dessa forma, mas acho que todos nós podemos refletir mais profundamente sobre “coletivos que têm postura de cidadão”.
Eu sempre fico imaginando a própria gestão, estratégia e liderança como uma combinação de elementos conhecidos. E nesse sentido a química nos ajuda muito. Os elementos são aqueles. Agora, é o jeito como a gente combina, integra a dose, a ordem como os produtos vão entrando, que pode gerar coisas extraordinárias. Verdadeiros milagres. Ou pode fazer o laboratório explodir. Essa combinação é que pode nos fazer refletir de um jeito diferente. Então eu posso pensar em ética, posso pensar em ausência egoísmo, posso pensar em bem comum e posso pensar em cidadão. Mas eu também posso pensar no agregado de cidadãos que exerce cidadania coletiva. É aí que a gente pode transportar esse conceito de cidadania coletiva, uma comunidade inteira que se integra e começa a participar ativamente dos destinos do país, com a questão de empresa cidadã.
Na verdade a coisa já começa com essa ideia de propósito. “Para que que a gente existe? Para que a nossa organização existe?”. E o corolário que pode ser meio chocante, mas coloca as coisas na perspectiva certa é: “Que diferença a ausência da nossa organização faria para a sociedade? Que falta faria?” Então, no momento em que a gente começa a pensar sobre isso, não dá para pensar só em resultados para o acionista. O produto que eu estou produzindo … se devo melhorar ou não … nossos clientes… em que sentido estou atendendo os clientes da melhor forma possível etc. Essas são questões até muito normais.
Para mim é commodity quando a gente começa a pensar sobre isso. Eu digo que isso todo mundo sabe. Agora, as coisas mais preciosas estão nas sutilezas. Nesse processo de produzir o produto, colocar no mercado, encantar o cliente e tudo mais… o que isso tudo tem a ver com a evolução do país como um todo? O que isso tem a ver com a realização do bem comum? Se essas questões não estão presentes, estamos com um objetivo (nem colocaria propósito) um objetivo reducionista, pequeno. E que pode me fazer, até equivocadamente, sem intenção, prejudicar o bem comum e a própria sociedade.
Quando nós abrimos amplamente essas reflexões sobre propósito, “para que que a gente existe?” não tem jeito, nós vamos sempre fazer com que tudo que a gente faz esteja contribuindo para evolução do todo. Não tem jeito. Porque senão não é propósito. Propósito sempre pressupõe o que eu faço e a contribuição do que eu faço para o todo maior. E é para o bem comum. Então já vemos que tem uma conexão com a ética, mas também tem essa ideia da organização que faz diferença na sociedade como um todo e embute isso na definição do seu propósito.
Na medida em que nós estamos conscientes de que por aquilo que a gente faz a gente torna tudo ao nosso redor melhor, é impressionante como isso muda a nossa visão. Muda nosso estado de consciência. Porque as nossas atividades devem fazer as pessoas que trabalham em nossa organização evoluírem cada vez mais. Nossas atividades organizacionais devem gerar produtos que façam a vida das pessoas na sociedade melhor. Nossa atividade deve contribuir sim para que o todo melhore cada vez mais. Que o país fique melhor. E é nesse sentido que nós precisamos estar pensando cada vez mais nessa ideia de participação muito ativa da organização no contexto maior. Isso é participação política. E muitas organizações parecem querer se manter à margem desse processo, e eu tenho dito que não dá.
Se nós estamos vivos, estamos vivendo aqui, nós vamos ter que participar ativamente dos destinos desse todo dentro do qual nós todos estamos. Não dá para negar fogo. Talvez a melhor expressão não seja essa. Mas a ideia de que nós não podemos nos omitir porque nós estamos aqui, nós queremos uma série de benefícios que a sociedade pode prover mas não estamos afim de assumir a responsabilidade… Aqui tem o conjunto de liberdade e responsabilidade que são parte da mesma coisa. E uma coisa não pode conviver sem a outra. É nesse sentido que a participação, o envolvimento e engajamento com os destinos do próprio país é algo de extrema importância. E isso tudo tem que ser cultivado não só pela organização (na medida que determine isso claramente na definição do seu próprio propósito) mas assegurar também que cada funcionário, cada membro, cada colaborador da organização também tenha essa atitude de, além de ter aquele trabalho dentro da organização, essas pessoas todas estejam também conscientes da responsabilidade que têm de contribuir para a construção de um todo maior e a realização do bem comum.
E essa consistência é que vai fazer com que as organizações sejam muito poderosas em todos os sentidos. Inclusive politicamente. Porque são organizações que estão fazendo diferença para que o país fique cada vez melhor. Então, na medida que as pessoas – cidadãos engajados, envolvidos e conscientes – se juntem é quase natural a gente imaginar que é um coletivo cidadão. Então a empresa cidadã, essa expressão, é absolutamente natural e quase redundante. Porque se nós estamos valorizando a participação do cidadão, nós temos que estar sempre vendo cada agrupamento, cada organização, cada empresa como uma organização também cidadã. É essa reflexão que talvez faça todos nós, em nosso próprio planejamento estratégico, começar a pensar desse jeito. E isso pode mudar significativamente tudo que a gente vai planejar e orçar em nossa organização. Esse é o incentivo que eu queria deixar a todos vocês líderes de organizações.
Então, neste bate-papo, neste podcast, hoje nós conversamos um pouco sobre esse conceito de empresa cidadã, organização cidadã. Até que ponto os cidadãos engajados acabam criando um coletivo que o tempo todo está a fim de participar? Eu gostaria de deixar esse incentivo neste podcast para que mais uma vez a gente abra esse diálogo, leve a conversas que façam com que o coletivo ao qual você pertence comece também a refletir nessa direção. Que tal refletir um pouco sobre os coletivos nos quais você está ou pertence e fazer com que todos esses coletivos tenham também uma postura cidadã? Estamos precisando disso em nosso país.