“Esse é um executivo extremamente ambicioso.” Essa frase, solta, nos remete imediatamente à ideia de alguém que, em algum momento, pode vir a correr riscos excessivos. Por outro lado, a palavra ambição assume outro significado quando ouvimos a expressão “essa pessoa não tem ambição”. De imediato, formamos a imagem de alguém sem energia, sem motivação, pouco afeito à ação, a lutar pelo que quer. Contudo, podemos também ver o lado bom de alguém sem muitas ambições: uma pessoa simples, que vive no ritmo da natureza, sem reclamar, sem estresse, feliz e com praticamente zero de riscos em sua vida. Sem excessos de qualquer natureza.
Uma reflexão decorrente: todo risco estaria associado a algum tipo de excesso? Seria o caso da pessoa que tem ambição desmedida? Ou de alguém que, embora já tenha muito, quer cada vez mais, a ponto de esse “querer mais” se tornar algo doentio, um vício? Esse tipo de ambição – tortuoso, distorcido – seria responsável pela recente turbulência, primeiro no mundo financeiro e depois na economia global?
Evidentemente, excesso de ambição implica em riscos maiores. Mas, em contrapartida, e se não houver excessos? Faz sentido a noção de “ambição equilibrada”? Equilíbrio, nessa acepção, significaria um tipo de ambição que não criasse riscos de qualquer natureza, nem para a própria pessoa nem para os outros.
Uma ambição sadia, natural, cujo objetivo não é conseguir algo só para si – poder, distinção, fama, riqueza –, mas o bem comum, o bem-estar de todos, sem nenhum tipo de exclusão? Não seria esse tipo de ambição a força motriz de pessoas que são hoje cultuadas como ícones da área política, social, da ciência, da educação, da saúde – pessoas que deixam legados extraordinários para a humanidade?
Seriam essas as pessoas que encontram satisfação não no sucesso de atingir o que almejavam, mas no processo de criar o próprio caminho para chegar lá, na excelência de cada passo, no jeito de viver cada momento, até quase independentemente do que buscam realizar? Estaria tudo centrado na criação pela criação?
Talvez aí esteja o sentido do jogo da vida: no criar, na criação que expresse, o tempo todo, a melhor versão de nós mesmos. Até que ponto, em nossas empresas, deveríamos ter – como nossa grande missão – a garantia de alta qualidade de nossos atos coletivos, momento a momento? Até que ponto a melhor estratégia seria aquela em que a empresa como um todo, em tudo o que faz, procurasse expressar a melhor versão de si mesma, a mais consciente e evoluída?
Seria esse modo de viver a forma ideal de dar vazão a essa ambição saudável, que trazemos todos dentro de nós? Não seria este momento de incertezas e forte transição o tempo ideal para o exercício pleno dessa ambição natural? E não seria esse o único modo de assegurar risco zero para nossas organizações?
*Oscar Motomura é diretor-geral da Amana-Key, especializada em inovações radicais em gestão, estratégia e liderança.
Publicado na Revista Época Negócios – Número 28