Ética e risco

Até que ponto os problemas éticos que nos cercam representam um fator de risco para o sucesso de nossas empresas e a própria evolução da economia do país?

Hoje, em pleno século 21, o avanço tecnológico vem viabilizando uma transparência cada vez maior nas organizações e na própria sociedade. As irregularidades, que no passado permaneciam camufladas, parecem vir à tona com mais frequência. Empresas flagradas em práticas não éticas chegam a fechar. Algumas delas, como a Enron, consideradas casos de sucesso estudados até em universidades, viraram casos de polícia no noticiário mundial. Simbólico também foi o fechamento de uma das empresas de auditoria mais conhecidas do mundo, aparentemente envolvida nas próprias irregularidades que deveria apontar. Sim, empresas declinam e até fecham não só por erros estratégicos e problemas de gestão e liderança. Problemas éticos também podem trazer consequências até mais dramáticas – perda de reputação, clientes, funcionários, investidores –, com grande impacto nos resultados. Todo o valor construído em décadas de muito trabalho pode se perder em dias…

Muitos executivos, especialmente os mais “pragmáticos”, tratam as questões éticas como um “tema filosófico” e como um fator a mais na complexa “pilha de pratos que têm de equilibrar” no dia a dia da organização. Mas, pela perspectiva de gestão de riscos, a ética talvez venha a receber a devida atenção também dessas pessoas que colocam os objetivos de curto prazo acima de tudo, inclusive da ética, na premissa de que os fins justificam os meios.

 

Empresas declinam e até fecham não apenas por erros estratégicos ou problemas de gestão e liderança

 

Ao se criarem estratégias para o futuro, é fundamental considerar a ética como um fator essencial para o sucesso sustentável de nossas organizações e questionar nossas práticas em todos os setores da vida organizacional (na conquista de novos negócios e novos clientes, para vencer licitações, para abrir novos mercados etc.). E quanto às nossas relações com clientes e fornecedores? No processo de criação de valor do qual fazemos parte, poderemos ser envolvidos indiretamente em alguma irregularidade? Não somente em termos de corrupção, sonegação, mas também em ações que prejudicam o bem comum (como o uso de produtos tóxicos ou matérias-primas que afetam o meio ambiente ou prejudicam a saúde dos usuários, por exemplo). E o que dizer de irregularidades na forma de gerar ganhos para alguns stakeholders à custa de outros (a sociedade, futuras gerações, a própria natureza, outros seres vivos)?

Até que ponto nossos funcionários, técnicos e executivos estão preparados para lidar com questões éticas com a devida profundidade, como algo essencial à vida em sociedade e também como fator crítico de sucesso, inclusive no longo prazo? Até que ponto eles estão preparados para lidar com os riscos sistêmicos (como os que se tornaram tangíveis na recente crise financeira mundial) e que podem passar despercebidos por negligência, incompetência e até ignorância?

E aqui fica uma reflexão final: até que ponto todo o momentum criado em nossa economia poderá se perder – até muito rapidamente – por questões éticas? Os sinais estão à nossa volta. O que podemos fazer a respeito a partir de nosso próprio dia a dia?

*Oscar Motomura é diretor-geral da Amana-Key, especializada em inovações radicais em gestão, estratégia e liderança.

Publicado na Revista Época Negócios – Número 44

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