Gestão de mudança é uma arte e talvez a coisa mais importante que tem que estar lá presente é respeito a todos. Como lidar? Da forma mais natural possível. Não fazer disso uma batalha, uma guerra mas é lidar de forma muito natural porque talvez essa resistência seja típico da natureza humana. Por quê que a pessoa resiste? Porque é humano. E se a gente leva por aí, primeiros nós seremos pacientes, segundo nós passamos a envolver essas pessoas mais profundamente no processos. Muitas vezes a pessoa ignora o que está acontecendo, não sabe exatamente o que está acontecendo, e aí de repente se torna o nosso problema pois muitas vezes os líderes começam a implantar mudanças sem nem explicar direito o que está acontecendo. É claro que vai ter uma série de anticorpos porque as pessoas estão lá, no dia dia e tal e, de repente vem uma mudança top down e as pessoas resistem. Algo absolutamente natural.
A aprendizagem é de que a gente precisa preparar, precisa conversar, precisa ter paciência, precisa mostrar os benefícios e ser persistente nisso. Algumas pessoas vão captar na primeira explicação, outras na 12ª. E olhe lá. Então, na medida que esse tipo de persistência que honra a diversidade exista, é impressionante o que a gente consegue fazer em gestão de mudanças. Nós não estamos com essa paciência e nós não estamos com tempo que a gente deveria ter. Mas isso já é um problema, porque quando a gente precisa decidir algo em 20 minutos – por não ter tempo – um assunto que levaria dias, nós estamos com problema. Então honrar isso talvez nos faça pensar melhor o sistema instalado no jeito de fazer a vida organizacional acontecer e reconhecer que há falhas e aí que essas falhas viram equações que nós vamos ter que ingressar porque se não a gente não consegue trabalhar essas questões da melhor forma possível. Então essa paciência é importante.
E agora estou me lembrando de algo que o Zumbi, um líder comunitário que na negociação com o Ministério Público…. O Ministério Público disse: “Eu só vou te ajudar se você cercar a comunidade e parar com as invasões.” Uma parte era uma zona de mangue. E aí cercaram uma comunidade. Vocês imaginem uma comunidade com quase 20.000 pessoas e 15 km e cerca. Agora, vocês imaginaram o que é introduzir uma cerca dessas numa comunidade aberta. Bota intensidade de mudança aí. Eu achei fantástica a postura do Zumbi pois ele foi conversar com todas as famílias antes de construir a cerca. Levou sabe quanto tempo? Dois anos. Só depois de falar com todas as famílias – e não foram conversas agradáveis todas elas – mas até o fim… Ele fala de uma família que resistiu, resistiu, resistiu até o fim mas ele respeitosamente foi e persistiu, persistiu, persistiu, e essa família ou essa pessoa que estava resistindo depois que começou a montagem da cerca, foi a pessoa que mais colaborou com a mudança porque ele se sentiu respeitado e não foi forçado a nada. Mas veja a paciência do Zumbi e essa cerca está lá há anos e continua lá. Ele disse: “Se eu fizesse isso logo de cara pois os recursos estavam lá sem fazer essa conversa com todas as famílias durante 2 anos, a cerca ficaria lá uma semana e iam derrubar em poucos dias.
Então pra mim foi um exemplo interessante de paciência e dois anos de preparação da mudança. A gente nem sempre tem esse tempo todo, a gente praticamente nunca tem mas a gente vai ter que pensar em alternativas diferentes. Nós temos a tecnologia, nós temos formas de chegar rapidamente às pessoas, nós podemos convidar multiplicadores, podemos pensar em pessoas que vão conversar em pequenos grupos e, de repente, num tempo muito menor, conseguir conversar com as 20.000 pessoas, as 6 mil famílias. Fazendo analogia com o caso do Zumbi. Formas há de fazer e isso que talvez nos faça criar o processo que melhor funciona.