O desafio maior em gestão

Oscar Mototmura: Nestes anos todos à frente da Amana-Key, trabalhando com inovação em gestão de organizações complexas – tanto empresariais como governamentais –, tenho visto o humano no centro de todos os desafios maiores.

Em planejamento, o desafio do humano se faz presente no modelo mental das pessoas que mais fortemente influenciam as escolhas estratégicas. É o modelo mental (o software) dos especialistas financeiros, dos especialistas em tecnologia, em produção, em marketing que prevalece? Ou dos especialistas em processos humanos? As escolhas estratégicas são fragmentadas ou todos os “especialistas” operam numa rede integrada, na qual todos estão sistemicamente conectados e a serviço de um objetivo único? A integração é só aparente, formal, protocolar (sendo que “nos subterrâneos” cada pessoa busca maximizar resultados da própria área até em detrimento das outras) ou é algo genuíno, honesto, transparente?

Pela perspectiva do financeiro, o desafio do humano está nos dilemas inerentes à própria identidade e ao propósito da organização. O que significa “resultado” para cada pessoa da organização? Existimos para gerar que tipo de resultado? Só pensando nos interesses dos acionistas ou de todos os stakeholders: clientes, fornecedores, a comunidade/sociedade, o governo…? Resultados só de curto prazo ou pensando também no médio e longo? Responsabilidade inclusive em relação a futuras gerações? Onde fica a ética quando se busca muitas vezes até “sacar contra o futuro” ao buscar maximizar os resultados de curto prazo? Balanced Scorecard significando só “medidas de resultado” ou algo maior em que a chave está exatamente no equilíbrio (balance)? Equilíbrio também no sentido de honrar resultados intangíveis, não-quantificáveis e não só os mensuráveis?

A busca da excelência tecnológica está levando a um “atropelamento” do humano, produzindo um ambiente frio e desvitalizado (de pseudomotivação gerada por constante pressão/estresse)? Até que ponto a produtividade seria potencializada e mantida em alta (sustentável e não em espasmos) se o humano estivesse sempre em primeiro lugar? Até que ponto tudo isso afeta a relação de todos com os próprios clientes?

Pela perspectiva da produção, o desafio do humano está na busca do equilíbrio entre o tecnológico e a preservação/evolução do humano – tudo que acontece na organização e em seu entorno. E também em questionamentos do tipo: Com que motivação se produz? A postura genuína de servir está definindo a qualidade dos produtos e serviços? Ou é algo só “utilitário”, levando até a um “servir manipulativo”?

Até que ponto o próprio marketing da organização seria algo incoerente e até desonesto na medida em que a produção não seja feita com base num interesse genuíno pelo bem-estar do cliente?

Pela perspectiva dos principais líderes, o desafio humano está na própria razão de ser da organização: estamos a serviço da sociedade, atendendo às suas necessidades mais essenciais, ou geramos produtos que no fundo a prejudicam?

Pela perspectiva da alta administração, o desafio humano está nas questões que envolvem poder, conflito de interesses e problemas de zonas de conforto que podem fazer a organização declinar e não chegar ao futuro. O desafio humano pode estar na necessária mudança cultural na direção de um mundo muito diferente (em relação ao presente) que vem à frente e sobre o qual sabemos muito pouco. Estamos formando os futuros líderes à semelhança dos atuais ou para desafios inéditos, para os quais o conhecimento atual será impotente? Que competências nucleares esses líderes precisarão ter no futuro para lidar criativamente com esses desafios ainda por surgir?

Pela perspectiva dos especialistas em RH, ou melhor, das “pessoas que mais entendem de gente” da organização, o desafio do humano está exatamente nos vazios em que a área não tem atuado nestes anos todos. E nas questões inéditas que os desafios do futuro estarão trazendo. Esses vazios/focos inéditos de atuação estariam onde “as pessoas que mais entendem de gente” são mais necessárias na organização? Seriam nas conexões entre áreas dentro das organizações, hoje ainda muito fragmentadas? Seriam nas conexões com a sociedade dentro de novos patamares de responsabilidade social, visando fazer o todo evoluir? Seriam na busca de “alta performance” em promoção de conexões – não entre iguais, pessoas que já compartilham as mesmas crenças, mas exatamente o contrário, entre pessoas com culturas, modelos mentais radicalmente diferentes?

Não estaria neste desafio a chave para uma globalização harmônica, em que todos possam evoluir? Não seria esse o verdadeiro resultado que todos nós – enquanto humanidade – buscamos?

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