Na política, as grandes distorções em nossa sociedade ficam mais evidentes. No “vale-tudo” do poder, há manipulação das massas por anúncios enganosos e pesquisas encomendadas. Promessas que, sabemos, não serão cumpridas. Ataques a oponentes com base em meias verdades. Acordos de bastidor que colocam o interesse público em segundo plano. Violação de leis de modo sutil (ou nem tão sutil). E tudo isso se reproduz nos mais diversos setores da sociedade. Ou será que é o contrário? O mundo da política é que reflete o que acontece na sociedade como um todo?
Quando um executivo da empresa aprova uma campanha publicitária que se apoia em meias verdades e omissões, ele faz isso por achar normal ou por pressão? E quando embute em sua comunicação ataques aos concorrentes baseados em pesquisas manipuladas? E quando manipula a opinião pública para justificar ações não corretas em relação ao meio ambiente, aos funcionários, aos fornecedores, à sociedade e aos próprios clientes? E quando aprova a redução da qualidade e do custo dos seus produtos pelo uso de matérias-primas não sustentáveis e fornecedores com práticas pouco éticas?
Às vezes, a pessoa faz isso sem saber. A consciência parece não atingir a elevação necessária… Às vezes, faz por pressão. Mas há também quem o faça de forma patológica. Num extremo, existem aqueles que foram educados para ser aéticos. Ganhar o jogo é o que interessa. Atingir o objetivo é tudo. No extremo desse extremo, existem aqueles que migram para o mundo do crime. Em pontos intermediários da escala, existem pessoas que praticam a premissa de que, no mundo dos negócios, os fins sempre justificam os meios, e até desenvolvem teorias bem articuladas sobre isso.
Sim. Sabemos que tudo isso faz parte da realidade hoje. Mas a questão-chave é saber se estamos conscientes da direção que devemos tomar, enquanto sociedade e seres humanos. Com que frequência conversamos sobre essa questão em nossas organizações, nas reuniões de diretoria, nas redes a que pertencemos? Enquanto não trabalharmos nossos referenciais, enquanto não tivermos uma clara noção do que nos fará evoluir verdadeiramente – como organização, como país, como sociedade global – e enquanto não assumirmos um posicionamento claro de como participar dessa evolução ficaremos no limbo das conversas vazias e da crítica pela crítica. Estaremos à deriva. E nada mudará.
Com tudo isso em mente, como você atuaria se fosse o presidente e o principal acionista da empresa? E se fosse o presidente do país? Seu discurso seria semelhante a tudo o que costumamos ouvir nas campanhas políticas? Ou você procuraria envolver a todos numa estratégia radicalmente inovadora de reeducação e mudança cultural, com base numa nova premissa – a de que a qualidade e o nível de consciência presentes nos meios, no processo, no jeito de fazer são até mais importantes do que os próprios fins…?
*Oscar Motomura é diretor-geral da Amana-Key, especializada em inovações radicais em gestão, estratégia e liderança.
Publicado na Revista Época Negócios – Número 45