Neste século 21, estamos descobrindo que a estrutura informal, que emerge por entre as frestas da hierarquia, tem muito poder na empresa.
Quantas redes atuam em cada empresa? Uma empresa atua em quantas redes? Até que ponto é preciso criar estratégias que levem em conta todas elas, inclusive as suas interconexões?
Ao criar estratégias, sempre levamos em conta tudo o que está ao nosso redor. Inclusive os concorrentes. Os novos entrantes. Os líderes do mercado. Os que estão no exterior. Só que vemos todos como instituições impessoais, pessoas jurídicas, e não como uma rede de seres humanos. No máximo, ao refletirmos sobre como a “instituição” atua, admitimos que, além da estrutura formal, existe outra, informal. Mas sempre vemos esse outro lado como se fosse algo irregular, subterrâneo.
Neste século 21, estamos descobrindo que essa “estrutura informal”, que sempre emerge por entre as frestas da hierarquia, tem muito poder. Um poder que vem sendo potencializado pela tecnologia e pelos “produtos de conexão” inéditos, viabilizados pela internet e pela nova geração de empreendedores. Mas o que exatamente essas “tecnologias de conexão” potencializam?
Cada pessoa da empresa – da cúpula à base – cria conexões de vários tipos, no dia a dia da organização: relações de amizade, de ensino-aprendizagem, de troca de experiências, de aconselhamento, de apoio mútuo. E cria também alianças por interesses diversos – algumas delas mais naturais, genuínas, sadias, e outras movidas por interesses que podem divergir dos propósitos e objetivos da organização. Todas essas conexões formam inúmeras redes sociais na empresa e definem sua verdadeira cultura. Uma cultura por vezes muito diferente daquela pretendida pelos acionistas e dirigentes e delineada em seus planos formais.
Além disso, se considerarmos que existem ainda as redes sociais de cada funcionário fora dos limites da empresa – amigos de escola, de futebol, da igreja, da escola dos filhos, da associação profissional, dos movimentos políticos, de ONGs etc –, as redes de redes assumem proporções de enorme complexidade. Pense agora nas redes dentro da empresa que se conectam a outras redes nos fornecedores, nos fornecedores dos fornecedores, nos clientes, nos clientes dos clientes, nos parceiros de diferentes níveis, nas instituições da sociedade civil e em instituições governamentais. No país e no contexto global. E reflita sobre o efeito de tudo isso no dia a dia.
Ao definir estratégias para nossa empresa estamos considerando essas redes de redes sociais ou tão somente o lado formal e impessoal das “pessoas jurídicas” envolvidas? Até que ponto, ao ignorar essa rede viva que é a empresa (em interação com outras redes vivas), criamos “planos estratégicos” frios e sem vida, rapidamente engavetados por nossas equipes?
O que aconteceria se enxergássemos como funcionam as redes sociais dentro da empresa e como funcionam as redes de redes no contexto maior? É possível mapear as redes sociais? Em meu próximo artigo, nesta coluna, tratarei especificamente disso. Quer referências já?
*Oscar Motomura é diretor-geral da Amana-Key, especializada em inovações radicais em gestão, estratégia e liderança.
Publicado na Revista Época Negócios – Número 33