Qual o papel dos líderes em estimular a inovação em suas equipes? Neste podcast, Oscar Motomura apresenta como líderes podem disturbar seus times em busca de inovações e reinvenções em tempos de crise.
Sempre que se fala em inovação, ela está associada a alguma necessidade de muito curto prazo ou até emergencial. Eu acho que nunca se falou tanto em inovação e em coisas fora da caixa quanto no momento como esse que vivemos nos últimos meses, em que a crise pegou todo mundo. Aí, todo mundo começa a se mexer. Acho que isso é muito evidente a todas as organizações e existem até ditados populares que falam que a necessidade é a mãe da invenção, alguma coisa nessa linha.
Agora, o grande desafio é criar momentos emergenciais como esses que façam com que as organizações e as pessoas das organizações comecem a desencadear ações de criação do futuro. Talvez caiba aos líderes trazer desafios diferentes que disturbem a organização. É mais ou menos assim: em tempos de bonança, em tempos bons em geral, as pessoas estão um pouco acomodadas, fazendo as coisas do dia a dia, como se fosse uma coisa muito normal, e não são incentivadas a pensar em inovações já que está indo tudo muito bem. Um dos papeis do líder, extremamente importante, é criar distúrbios, é disturbar a organização para tirar as pessoas da zona de conforto. Isso pode ser feito “artificialmente”, ou seja, criando uma crise, um desafio que desloque as pessoas do morno do dia a dia.
Mais uma vez temos a questão da criatividade. Por exemplo, você pode trazer toda a equipe para um desafio específico, por exemplo, pegar uma região específica do país, onde nós estamos fracos, e fazer um mutirão para triplicar os resultados naquela área. Então, eu criei um desafio importante para a organização (às vezes nem tanto), que cria esse estado de espírito que faz as pessoas saírem do feijão com arroz do dia a dia, saírem para uma missão fora da sua caixa. Aí de repente, nesse mutirão, você vai encontrar pessoas, uma anima a outra, muitas ideias inovadoras serão geradas para se chegar ao objetivo de triplicar os resultados naquela região específica e, digamos que isso dure um mês, as pessoas que voltarão para as suas bases já não as mesmas, já estão estimuladas por esse desafio. E no processo de chegar a esses resultados diferentes, o grupo inteiro que participou teve que criar coisas diferentes, coisas fora da caixa, contaminado por esse processo de inovação para essa equação específica. Eles já não farão o feijão com arroz do jeito que faziam.
Esse é um processo que os líderes podem sistematicamente fazer. É claro que depois de seis meses, tudo voltou ao normal e ao morninho, essa é a outra hora de criar um outro desafio, por exemplo, assegurar que os maiores clientes sejam visitados por todos os membros da equipe, em duplas ou trios, com uma pauta específica, ou seja, fazer as pessoas saírem do conforto de seus escritórios com ar condicionado e ir visitar os clientes. Nesse momento, você também está disturbando a organização e está aumentando a sensibilidade de todos em relação às necessidades dos clientes. E é exatamente essa sensibilidade que vai provocar a inovação: vamos criar um serviço que atenda melhor o cliente assim, assim, assado.
São esses distúrbios que fazem com que todos se desloquem desse processo de ficarem presos no morno e, muitas vezes, algumas coisas em relação ao futuro, principalmente a longo prazo, podem ser criadas nesse sentido. Uma das coisas que nós fazemos de vez em quando com grandes clientes é trazer referenciais de inovações que dão guinadas em relação ao longo prazo da organização. Trazemos vários exemplos, isso cria um referencial e mostra como nós podemos hoje estar criando embriões que vão fazer com que esse futuro seja muito produtivo e muito diferente, em áreas diferentes. Esse é o primeiro passo. O segundo passo desse desafio é um concurso que faça com que as pessoas apresentem projetos para a criação do futuro da organização e fazer um grande alarde, motivar as pessoas a fazerem e a apresentarem projetos, mostrarem seus projetos, premiar esses projetos. De repente é algo prazeroso, divertido e que mexe com a energia das pessoas, que trarão ideias que ajudarão, por exemplo, a criar embriões para o futuro. Ou seja, empreendimentos pequenos, nascentes, com pouco investimento que você experimenta e essa experiência é que vai gerar aprendizagem e até alguns poucos sucessos – porque muitos não vão dar certo, apenas alguns poucos poderão ser o carro chefe do futuro. Então, é soltar a imaginação e criar “distúrbios positivos e negativos”, coisas que desancorem as pessoas exclusivamente no curto prazo.