UM PROBLEMA POR VEZ?
Quando se tenta resolver tudo, pode-se não fazer nada bem”, dizem sobre Obama. Mas nesses tempos, não seria exatamente o contrário?

Li outro dia um artigo de um especialista americano sobre o esforço de Obama e sua equipe para assegurar planos em todas as frentes que, direta ou indiretamente, teriam relação com a recuperação da economia americana. Dizia o articulista: “… temo que, ao tentar fazer tudo de uma vez, eles não façam nada bem”. Achei também reveladora do modelo mental do articulista uma outra frase: “Saberemos (caso a estratégia de Obama seja bem sucedida) que os especialistas do governo são capazes de desenhar e executar uma mudança transformadora de cima para baixo…”.

Em minha opinião, há aqui dois equívocos. Primeiro, a ideia de que é resolvendo um problema de cada vez que se chega lá. Num contexto complexo como o que vive hoje a economia americana, o que seria atacar um problema de cada vez? Com que critérios fazer a lista de prioridades? Além disso, atacar antes os problemas que estão no topo da lista significa que os outros vão ter de esperar? E quais as consequências disso? Eventuais desastres, que acabarão pondo a perder o que eventualmente se conseguiu “resolvendo” o prioritário?

Num contexto complexo como o da economia americana de hoje, que critérios usar para uma lista de prioridades?

Num processo mais “mecânico” de liderança, a ideia de se trabalhar um problema de cada vez parece natural. Num processo mais biológico, não. Quando se considera a sociedade como um organismo vivo altamente complexo, é preciso pensar no todo, nas interconexões, na interdependência entre as partes. Restaurar a saúde da sociedade pode significar trabalhar, sim, o todo “de uma só vez”.

O segundo equívoco: num raciocínio mais “mecânico”, é comum resolver problemas em processos de cima para baixo. No “biológico”, porém, leva-se em conta também a capacidade do próprio organismo de se cuidar.

Quando Obama diz “Não podemos enfrentar com sucesso nenhum de nossos problemas sem enfrentar todos eles”, que modelo mental está revelando? Seus planos, por outro lado, não me parecem “de cima para baixo”, mas o que se espera de um verdadeiro líder, em momentos de crise. Uma direção clara. Uma filosofia consistente. Valores inequívocos.Tudo isso comunicado com transparência. A todos. Num verdadeiro chamado à ação. Num processo que conta com a iniciativa e a capacidade de autogestão, de auto-organização de todas as instituições, todos os grupos, todas as pessoas da sociedade.

Essas reflexões aplicam-se ao que está acontecendo hoje em sua organização e em nosso país? Atacar um problema de cada vez ou “trabalhar o todo”, inclusive as questões nucleares (como o resgate da ética, a erradicação da corrupção e a transformação cultural), que têm sido sistematicamente evitadas por sucessivos governantes – nem sempre líderes – de nosso país? Algo a ser resolvido em processos mecânicos, de cima para baixo, ou de forma natural, biológica, também de baixo para cima, com a participação dos cidadãos conscientes de nosso país?

*Oscar Motomura é diretor-geral da Amana-Key, especializada em inovações radicais em gestão, estratégia e liderança.
Publicado na Revista Época Negócios – Número 26

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