Muitas empresas podem estar em declínio e não sabem. Na aparência, continuam muito bem. Apresentam bom desempenho, pelos indicadores tradicionais. Mas os “não tradicionais” podem revelar um quadro bem diferente. Podem indicar, por exemplo, que o “pique” dos colaboradores e dos próprios líderes está sutilmente diferente. O entusiasmo já não é o mesmo e a vontade de superar obstáculos parece menos intensa. O ritmo está mais para tempos normais e menos para tempos de conquista, superação. Todos parecem querer que a organização funcione em “velocidade de cruzeiro”, com tranqüilidade, no “piloto automático”. E ninguém parece preocupado com o destino da jornada: acham que estão na direção certa. Mas será que essa direção, definida em algum ponto no passado, ainda faz sentido? E se ela não levar mais ao futuro…?
Ainda há outros sinais de declínio. O influxo de talentos parece igual. Mas na verdade ele traz mais do mesmo. Do mesmo perfil… Mas um futuro muito diferente não exigiria líderes também muito diferentes?
A organização, por outro lado, também pode não estar mais tão “de bem” com os clientes e a própria sociedade. Seus produtos, mesmo com grande demanda, ainda, podem estar sendo questionados. Talvez não sejam tão ecológicos quanto deveriam… Nem tão saudáveis… Até o próprio conteúdo dos anúncios pode parecer, a parcelas cada vez maiores da população, um tanto supérfluo e manipulador, em dissonância com a evolução da sociedade rumo a níveis cada vez mais elevados de consciência.
Onde estão os líderes dessa organização? Não deveriam estar percebendo tudo isso? Não deveriam estar agindo sobre todos esses aspectos mais sutis da vida organizacional? Não deveriam estar catalisando mudanças, transformações e até reinvenções na direção de um futuro muito diferente?
Os líderes dessas organizações de “sucesso em declínio” estão provavelmente presos ao hoje. Pensam, sim, em estratégias. Mas no estratégico-micro (praticamente no tático), para fazer o hoje funcionar cada vez melhor e otimizar o estratégico-macro do passado. Os grandes movimentos estratégicos que irão direcionar a organização para o futuro não estão em foco. A “liderança intelectual” que trouxe a organização ao sucesso atual pode estar, na verdade, se perdendo. Simplesmente porque os líderes estão ausentes. Estão fora desse campo. Do campo em que o futuro é moldado.
Os líderes das organizações de “sucesso em declínio” estão presos ao hoje, pensam no estratégico-micro.
Quando a organização está num padrão ideal em gestão, estratégia e liderança, ela é capaz de funcionar autonomamente, superando todos os desafios de forma criativa, orgânica, natural. Os líderes não precisam “cobrir” deficiências e estão naturalmente livres. Livres para ficar 100% focados no estratégico. Na criação do futuro.
É onde sua organização gostaria de estar? Você está a fim de romper o círculo vicioso? Disposto a investir a energia dos principais líderes da organização de forma concentrada, hoje, para compensar o que não foi feito no passado e reverter o processo, criando um novo círculo, agora virtuoso…?
*Oscar Motomura é diretor-geral da Amana-Key, especializada em inovações radicais em gestão, estratégia e liderança.
Publicado na Revista Época Negócios – Número 17